Publicada por PortugalZoofilo.Net em 8 de Junho de 2011
Será que ao ver uma tourada percebemos tudo o que se está a passar com o Touro? A percepção geral é que há ali uma massa bruta a impelir continuamente demonstrando grande tolerância à dor e provocações que derivam da actividade dos toureiros. Com este artigo procuramos explorar o que está a acontecer ao Touro durante a tourada e o que este está a sentir.
Transportar o Touro
- O Touro é enganado e conduzido para entrar num expaço exiguo que o transportará até à arena.
- É o momento de maior stress para o Touro por dois motivos: 1) este é praticamente o seu primeiro contacto directo e físico com a actividade humana após anos de vida 2) O seu habitat natural são espaços amplos onde vive em manada e de repente vê-se isolado num espaço diminuto acrescido das oscilações do movimento.
- Ao chegar ao destino é colocado nos curros durante umas horas para se acalmar e perder o stress e ansiedade causado pela viagem. Os curros são uma clara melhoria em relação à cabine ou contentor de transporte mas o Touro ressente-se ainda de ter sido retirado recentemente do seu habitat.
Preparar o Touro
- Embolamento. Corresponde ao serrar de 2 a 4 cm da ponta dos cornos a sangue frio. Chegam a demorar mais de 20 minutos. Existem terminações nervosas que tornam o processo doloroso durante a execução. O Touro está também stressado pois foi imobilizado para o efeito. Este é um acto que também afecta a noção de espaço / distância calculada do animal.
- Sacos de Areia às costas para tirar força. *
- Pancadas em Testículos e Rins.*
- Dão a beber água com sulfatos para provocar diarreia para o enfraquecer e desorientar. *
- Untam os olhos com gordura para dificultar a visão. *
- Aplicação de substâncias tranquilizantes para tornar o Touro mais dócil. *
- Vertem sobre as patas uma substância que produz ardor e o impede de estar quieto para abrilhantar a lide a cavalo. *
* Estas acções são consideradas batota e são rejeitadas pelo mundo taurino. No entanto é uma prática pontual sobretudo em praças de categoria inferior quando praticantes menos experientes ou amadores se sentem amedrontados pelos Touros.
Entrada na Arena
- O Touro é conduzido dos curros para a arena.
- Uma vez aí chegado é assolado por um conjunto de sons com os quais não está familiarizado. Os sons da multidão e da banda sonora causam desorientação uma vez que a sua capacidade auditiva é muito superior à humana.
- As próprias massa de cores presentes na praça e multidão contribuem para a sua desorientação pois são cores que não está habituado a ver.
- O seu instinto é a fuga entrando em maior stress quando percebe que não existe escapatória.
- O típico comportamento de corrida e torção de cabeça em várias direcções de formas curtas e rápidas, ao contrário do que pensa a maior parte das pessas nas bancadas, não são demonstração da sua agressividade mas sim da sua desorientação e stress acumulados.
Picar o Touro
- Acção em que o cavaleiro pica o touro numa zona específica da anatomia do Touro entre a nuca e o fim do pescoço.
- O objectivo é debilitar o Touro para a lide e obrigá-lo a manter a cabeça baixa.
- Consiste na perfuração com uma Puya, lança com uma lâmina na ponta, que pode infligir feridas até um máximo de 9 cm de comprimento e 3 cm a 6 cm de largura.
- Dilacerando uma importante estrutura muscular da cervical dorsal, e ligamentos da nuca, do Touro é causada a perda de mais de 4 litros de sangue. O Touro fica limitado perdendo força, velocidade e sentindo dor ao tentar cornear de baixo para cima.
- 96% dos golpes contudo não atingem a zona delineada.
- 42% dos golpes incidem mais atrás em veias mais irrigadas, aumentando as hemorragias, danificando terminações nervosas e vértebras dorsais que afectam a capacidade locomoção.
- 34% foram ainda mais abaixo sendo capazes de causar danos no tórax e mesmo nos pulmões diminuindo a capacidade respiratória do Touro.
- Por cada estocada visível existe um movimento de mete e tira quase imperceptível ao olho menos treinado que multiplica o número de golpes por 7,4.
- Por cada ferida visível do exterior existem mais 3,57 feridas interiores.
- A média da profundidade de um golpe é de 21 cm através da habilidade dos picadores que conseguem aumentar a capacidade de perfuração apesar da muito menor dimensão da lâmina.
Bandarilha
- Basicamente são arpões com 6 cm a 8 cm de profundidade que são espetadas na zona anteriormente castigada.
- O seu objectivo é o de cravarem-se nos tecidos já fustigados e com a inércia do movimento forçar que as lesões se agravem e que as hemorragias continuem a fluir sangue para um debilitar contínuo do Touro.
Estocada
- Ponto final nas touradas onde ocorre a morte do Touro.
- A espada curvada de 80 cm deveria cravar-se num dos chamados olhos da agulha. Se certeiro acerta numa das principais artérias e a morte dá-se em poucos segundos e sem vómitos.
- Na maioria dos casos erram e são cortados os cordões nervosos laterais à medula provocando a desconexão motora, lesão pulmonar, lesão na parte inferior do coração que faz com que o sangue aflua até sair por boca e nariz sufocando com o próprio sangue, ou lesão no diafragma provocando uma morte por asfixia. Há casos até de estocadas tão atrás que danificam fígado e estômago.
Descabello ou Puntilla
- O objectivo é acabar com sofrimento de Touros que não encontraram a estocada perfeita.
- Consiste em aplicar um golpe no primeiro espaço intervertebral para cortar a medula logo após a nuca.
- Chegam a ser aplicadas dezenas de golpes até se conseguir o objectivo de matar o Touro para o poupar ao sofrimento.
Esta é uma versão muito resumida. Uma maior descrição, até das componentes comportamentais e bio-químicas, de um Touro durante actividades de Tauromaquia pode ser lida nestes estudos efectuados por veterinários com todo o rigor científico.
Uma outra visão pode ser lida aqui num texto que detalha os aspectos da tourada relativamente à participação humana analisando toureiros e espectadores.