Publicada por PortugalZoofilo.Net em 29 de Maio de 2011
Após a informação exposta nos artigos anteriores, deste dossier, temos agora enquadramento suficiente para perceber e participar na discussão entre os apoiantes e os detractores das touradas. Abaixo são explorados os principais argumentos utilizados para a defesa e para a proibição das touradas.
A Tradição | |
Pró-Touradas |
Anti-Touradas |
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Apesar do seu valor histórico as tradições devem acompanhar os tempos e adaptar-se, ou mesmo extinguirem-se, à medida que a humanidade evolui. Os direitos dos animais são cada vez mais um dos pilares de uma consciência ética e justa. O Touro não pode e não deve ter um regime de excepção na garantia desses direitos. Durante 500 anos a escravatura foi uma tradição e costume. A emancipação das mulheres foi feita através de uma longa e desigual luta que conseguiu pôr fim a uma supremacia masculina em termos de direitos e exercício de cargos ou profissões. As execuções em praça pública foram comuns durante séculos. Este são apenas três exemplos de antigas tradições milenares ou seculares que naturalmente chegaram ao fim. Porque era o correcto e não porque toda a sociedade concordasse com o seu fim. O que se deve sobrepôr? O perpetuar de uma tradição ou o respeitar do bem-estar humano e animal? |
Conhecer e Preservar o Touro | |
Pró-Touradas |
Anti-Tourada |
Os profissionais do mundo tauromáquico, e mesmo os afficionados em geral, são os verdadeiros conhecedores e amantes dos Touros. Convivem com os Touros em todo os ciclos da sua vida, conhecem-nos como ninguém, seja em aspectos biológicos, seja em aspectos psicológicos e/ou comportamentais. |
Sim, é verdade que quem lida com eles diariamente terá a aptidão natural de melhor os conhecer. Não é por acaso que das mais detalhadas e apaixonantes descrições sobre Touros sejam feitas por pessoas ligadas à Tauromaquia, com claro conhecimento de causa. No entanto é de estranhar que tanta admiração e amor ao animal culminem no aceitar do seu sacríficio num espectáculo baseado no infligir de stress e dor ao Touro. Quem de perto lida com os Touros sabe que aquele não é o seu ambiente, que investe porque não tem para onde fugir, que sente cada um dos castigos que lhe são fustigados e que tivera o Touro livre escolha e não estaria ali naquela confrontação desigual. Sabe também quem os cria que um Touro pode viver dezenas de anos, no entanto entrega-o para as lides quando perfazem apenas 3 anos. Privar um Touro de viver as restantes décadas são demonstração de amor, apreço e respeito? |
A luta entre homem e Touro na arena é uma luta justa. É o culminar de uma vida de bem-estar em liberdade podendo o Touro salvar a sua vida com um indulto sendo devolvido aos prados. |
Quanto á luta justa existem dados estatísticos em Espanha que dizem que desde 1771 foram mortos 445 ´artistas´ das lides Tauromáquicas (apenas 65 toureiros) e que desde 1950 foram alvo de indulto apenas 7 Touros. Estranho sentido de justiça aplicada aos centenas de milhares de Touros mortos desde 1771 ou estará a balança avariada? E que dizer do facto de 80% dos Touros indultados morrerem no dia seguinte ao da lide? |
Muitos dos que gritam pelo fim das Touradas não fazem o ideia do que é um Touro e do que lhe dá ganas de viver. O Touro anseia pela confrontação e sente-se confortável na luta. É um animal agressivo que sente prazer na lide. |
Não bastará reconhecer que o conceito de forçar um animal a defender-se, de o sangrar na arena e de o ver sofrer são vis, sádicos e macabros? Precisaremos de conhecer um animal para assumir que não terá ganas de querer sofrer e morrer? Muitos dos que gritam a favor das touradas não deixam que os aficionados façam ideia do que é e do que sente um Touro enfabulando e mistificando o conhecimento público sobre os Touros. Em artigos deste dossier já foi feita a informação sobre o comportamento normal de um Touro que é completamente antagónico ao que o mundo Taurino quer fazer passar. |
Sem a Tauromaquia o Touro seria extinto. É uma raça sem interesse comercial para outras actividades onde existem raças mais produtivas. A Tauromaquia é também uma actividade que preserva milhares de hectares de montado com sistemas de produções de bovinos dos mais sustentátveis e com maior bem-estar animal em todo o mundo. Com efeito, em três ou quatro anos de vida do touro, este apenas sofre cerca de 30 minutos, o tempo que dura a lide. O resto do tempo, não há animal que viva junto do homem que tenha vida que se lhe compare. Vive em liberdade, em estado selvagem, inteiro. Intimamente ligado aos Touros existe também o desenvolvimento e apuramento dos Cavalos Lusitanos. |
Parece um pouco um contra-senso aqueles que se dizem os principais amantes e defensores de uma espécie defenderem que se não existir algum interesse comercial a sua preservação é impraticável. Temos em Portugal vários centros de recuperação de espécies em extinção (como o lobo e lince ibérico) e várias reservas onde existe um ecossistema que permite a vivência de espécies autóctones em equilíbrio. Com a ajuda de biólogos e cooperação dos actuais ganadeiros certamente que seria viável criar uma reserva de alguns milhares de hectares de montado onde fosse possível que algumas manadas vivessem em liberdade. Iria até ajudar certamente a recuperação de um dos seus predadores naturais, os lobos, bem beneficiar o reforço de população de aves necrófagas. Quanto aos cavalos são outros dos animais explorados na Tourada que felizmente hoje em dia não morrem com a frequência de outros tempos. (apesar de neste dossier não se ter explorado o tema existe também muito sofrimento psíquico e físico dos cavalos, sobretudo dos que são montados pelos picadores que são privados da visão e audição para enfrentarem as investidas do Touro sem perceber o que se passa nem poder reagir instintivamente. Sofrem também graves lesões e por vezes a morte.). Em todo o caso talvez alguns desses cavalos pudessem também ser libertos nas reservas atrás mencionadas. Visto que aparentemente ambos os lados da barricada têm amor e respeito ao Touro certamente que não seria complicado juntar esforços e dedicação para providenciar uma vida verdadeiramente livre aos Touros. |
O Touro é um dos animais na Natureza com maiores níveis de endorfinas e adrenalinas no seu sistema o que leva a que a sua sensibilidade à dor seja extremamente reduzida em alturas de stress comparativamente a outros animais. O facto de os níveis de stress do Touro atingirem o seu pico máximo durante o transporte, em que estão confinados em espaços exíguos, e baixarem significativamente durante a lide demonstram como é um animal que se sente bem na luta. A sua bravura suplanta em muito o seu sofrimento porque a sua fisiologia assim o permite. Exigem estudos científicos rigorosos dos quais resulte a conclusão de forma inquestionável que os animais, e em particular o Touro, sentem, como o fazem e em que circunstâncias. |
Isto contraria o facto dos ganadeiros evitarem ao máximo castigar os Touros durante a sua vida pois estes recordam-se para sempre dos castigos que sofrem e dos autores e utensílios utilizados. Se um Touro sente as moscas que pousam no seu corpo, que reage com espamos involuntários ou com o abanar da cauda para as afastar como poderá não sentir as perfurações de lâminas com vários cm de diâmetro e profundidade? Também um Homem em luta pela sua vida não sente a dor das lesões que sofre a quente. Se estudassem apenas os homens quando se encontram em combates de ringue não iriam tirar as mesmas conclusões? Cientificamente está aqui rebatido esse argumento com indicação de todas as lesões provocadas pelas sevícias a que é sujeito um Touro bem como do stress a que é sujeito. Mesmo que o Touro nada sentisse, qual a moralidade de provocar lesões num animal que lenta e progressivamente conduzem à sua morte? Durante séculos o nosso conhecimento sobre o bem-estar físico e psicológico dos animais era rudimentar. Ainda há duas ou três gerações era comum dizer-se que os animais não sentiam dor. Hoje em dia está comprovado que os animais, incluindo o Touro, são seres sencientes, capazes de sentir dor física e sofrimento psíquico/emcional. Negá-lo está ao nível da posição da inquisição sobre os heréticos avanços da ciência. |
Outros Argumentos | |
Pró-Touradas |
Anti-Touradas |
A Tourada é um espectáculo que ocorre em recinto fechado com bilhete pago. Só assiste quem quer. E quando dá na TV quem não quiser assistir basta mudar de canal. Quem não gosta não vê. |
Não podemos ficar indiferentes aos maus tratos a animais infligidos aos Touros durante um pretenso espectáculo cultural. O regime de excepção para com os Touros equivale a uma lei penalizadora de um crime, excepto se cometido sobre um tipo de vítimas em particular. O Touro é um animal como os outros e deve ser reconhecido e protegido como tal. O sentimento de injustiça e intolerância são o natural para com uma tradição que parou no tempo e assenta numa violação dos direitos e bem-estar de animais. A partir do momento que existem apoios de autarquias e televisões públicas à exaltação de um espectáculo que assenta em derrame gratuito e violento de sangue, os cidadãos portugueses têm o direito de manifestar o seu desagrado e exigir o fim de todo e qualquer apoio a esta actividade, bem como ao seu fim. |
Porque é que aqueles que se insurgem contra as Touradas não se insurgem contra o sofrimento e más condições de vida das galinhas, porcos, vacas, peixe, etc, que comem tranquilamente sem problemas de consciência? Porque não se preocupam com os cães e gatos abandonados que são um flagelo no nosso país? Ora, os defensores dos direitos dos animais fariam melhor em preocupar-se com os valores civilizacionais que transformaram a vida de certos animais domésticos num espectáculo verdadeiramente degradante do que com as touradas que enobrecem e perpetuam a vida dos touros bravos, proporcionando-lhes uma vida de fazer inveja à dos seus primos bois. |
E porque assumem que não o fazem? Muitos dos activistas anti-tourada praticam uma dieta vegetariana e/ou defendem o bem-estar dos animais, mesmo daqueles que têm como destino o consumo humano. Muitos estão também intimamente ligados a associações zoófilas que lidam directamente, com acções no terreno, com o problema do abandono de cães e gatos em Portugal. Não existe uma prioridade para os horrores e resolução de problemas. A polivalência é necessária e obrigatória exactamente para não deixar agravar aqueles que são descurados. Recentemente conseguiu-se a vitória de a prazo acabar com o uso de animais em circos. O fim das Touradas se seguirá. É mais uma de muitas batalhas em curso pelos direitos e bem-estar dos animais. |
A Tourada foi apreciada desde sempre e inspirou muitos artistas com obras marcantes sobre o tema expressas em pinturas, esculturas, música e obras literárias. |
Os artistas são como o resto das pessoas. Existem os aficionados e os que se oponham à Tourada. O facto de ser alvo de abordagens no trabalho de vários grandes artistas não deverá ilibá-la daquilo que é. Também muitos artistas se inspiraram em guerras, em cenários de catástofres naturais e sofrimento humano e ninguém defende que estas devam ocorrer para estimular veias criativas. |
A Tauromaquia é uma actividade auto-sustentada que gera empregos e riqueza para o país. Não recebem quaisquer apoios financeiros do estado. Seria um desastre económico o fim da actividade Tauromáquica. |
Auto-sustentada? A receber milhões de euros de apoios de autarquias anualmente para manutenção dos recintos e organização das ´festas´? Todas as revoluções que têm impulsionado o desenvolvimento da nossa civilização têm provocado transformações nas actividades profissionais existentes. A revolução industrial acabou com o fabrico artesanal de milhares de produtos, a robótica e informatização extinguiram também uma série de tarefas que eram executadas por pessoas e os sectores económicos mais fortes estão em constante mudança obrigando a uma movimentação constante das massas laborais. O fim da Tauromaquia seria apenas um desastre económico para as poucas centenas de famílias que dela dependem a 100%. E isto se não fosse estabelecido algum tipo de plano que lhes permitisse a transição gradual de actividade. Não é defendida a ruína de pessoas mas o fim de uma actividade cujos moldes podem e devem ser negociados para diminuir o seu impacto nos agentes que vivem exclusivamente dessa actividade. As praças de Touro continuariam a existir mas o seu espaço a ser reaproveitado para actividades verdadeiramente lúdicas e culturais. |
Muita gente é aficionada desde tenra idade e não é por isso que são pessoas mal-formadas, agressivas ou perigosas para com os outros ou animais. |
Não pode ser ignorada a força da sugestão e do subconsciente, bem como o culto de alguma ignorância. A tourada incute a imagem errada dos Touros e sobretudo educa a tolerância à violência, ao sofrimento e a imagens sangrentas a troco de divertimento. Mesmo que apenas para com Touros, o que pode ser discutível. |
Os anti-taurinos atribuem aos animais características humanas para despertar proximidade e identificação confundido o que são pessoas e o que são animais. Com a antropoformização do Touro deixam-no de ver como o animal que é com necessidades, comportamentos e reacções psíquico-físicas distintas das de um ser humano. |
Touro Bravo, Fera Negra, Besta Negra, símbolo da morte e do medo, arrogante, valente, etc. São apenas alguns dos termos comuns utilizados pelos pró-Taurinos. Tão depressa o sacralizam, como diabolizam como o antropoformizam. Descrevem-no à medida do necessário para conceder uma carga sagrada, poética, espiritual, transcendente ao acto da Tourada. Ao dizerem que o Touro nasce para arena e que não sente dor devido ao prazer da luta estão também já cegos para com as reais necessidades, comportamentos e reacções psíquico-físicas deste animal que tão bem conhecem. |
Ocorrem muitos espectáculos com Touros para fins beneméritos existindo uma forte solidariedade social com grandes benefícios para misericórdias e outras associações. |
Ser pró-taurino não quer dizer que não se seja solidário e voluntário para com causas sociais pelo que este é um argumento que parece ser uma lavagem de cara servindo-se daqueles que vivem com a corda no pescoço e que não podem recusar donativos. Mesmo assim há muitas associações zoófilas que recusam donativos oriundos de actividades que envolvam o sofrimento de animais pelo que normalmente o alvo dos donativos são associações de causas relacionadas com a melhoria de vida de pessoas mais carenciadas. É louvavel esta atitude e distribuição de dinheiro que não deixa de ser um dinheiro sujo de sangue. Mas lançamos o desafio de que os apoios dados pelas autarquias em vez de serem canalizados para actividades tauromáquicas sejam directamente canalizados para associações sem fins lucrativos de apoio a pessoas e animais. |
Admitem um dia colocar fim às actividades Tauromáquicas. Mas pela falta de afluência de público e não por resultado de manifestações daqueles que são contra estas práticas. |
As manifestações físicas e online são uma das vias para conduzir a essa falta de público. O que elas pretendem é mostrar que há muitos cidadãos incomodados com as práticas tauromáquicas e trazer a público informação e pontos de vista muitas vezes desconhecidos. |