Publicada por PortugalZoofilo.Net em 12 de Maio de 2011
O Touro representa desde sempre a força e virilidade, duas qualidades fundamentais do ideal masculino. Ao longo da história foi sacralizado e endemoninhado representado para o Homem a encarnação ou manifestação de características sobrenaturais e transcendentes.
Pré-História
Existem pinturas do Paleolítico que representam explicitamente os Aurochs, antepassados dos actuais Touros. Algumas das pinturas ilustram colhidas mortais com figuras humanas tombadas sob um Auroch.
É inegável o fascínio do Homem para com o Touro desde os primórdios da nossa civilização. Talvez isto se deva ao facto de serem abundantes nos prados e era frequente o contacto e a observação mútua. Especula-se que os machos Auroch eram significativamente mais agressivos que os actuais Touros e eram alvo de caçadas nas quais muitas vezes existiam ´danos colaterais´ para os humanos o que cultivou o respeito pela sua bravura e potência na defesa da sua vida e dos seus.
A sua domesticação deu início à criação das subespécies de gado doméstico que hoje abundam no planeta.
Grécia Antiga
De 2 000 a 1 425 AC surge a idade de ouro da arte Taurina.
O culto do Touro prevalecia na vida da Grécia Minóica. O Rei / Governante, designado por Minos, era o sacerdote do culto do Sol que venerava Cnossos. Uma das entidades divinas adoradas era o Minotauro para o qual construiram o famoso Labirinto de Creta.
Um dos rituais fundamentais era o sacrifício de jovens rapazes, oriundos de antigas aldeias da península Helénica, ao Touro Sagrado que representava a entidade Minotauro. Estas vítimas inocentes tinham a possibilidade de salvar a sua vida se conseguissem, por mestria, agilidade, sorte e capacidade próprias, evitar as investidas de um Touro durante tempo suficiente para serem poupados.
Naturalmente isso raramente acontecia.
Os sacerdotes do Minotauro, que o Touro Sagrado não atacava por com eles conviver desde tenra idade, executavam acrobacias sobre o seu corpo, lançando-se e apoiando-se sobre os seus cornos. No final da cerimónia o Touro era sacrificado e o seu sangue, considerado altamente fecundo, era espalhado sobre os campos como fertilizante.
Suspeita-se também que a lenda do Unicórnio tenha surgido na Grécia através da observação de Touros pois de perfil aparenta ter um único corno.
Império Romano
Os Aurochs eram utilizados nos ´espectáculos´ nos Coliseus Romanos que duraram até ao século IV.
Júlio César ficou fascinado com os Aurochs descrevendo-os da seguinte forma "... os animais que são chamados Uri. Estes são um pouco inferiores ao elefante em tamanho e têm a aparência, cor e forma de um Touro. A sua força e velocidade são extraordinárias;.. não poupam nem homem nem besta selvagem que possam ter avistado. Os alemães conduzem-nos a grande custo em covas para matá-los. Os jovens fortalecem-se com este exercício, e praticam este tipo de caça, e aqueles que mataram o maior número deles, apresentando os chifres em público, para servir como prova, recebem um grande elogio. Mas nem mesmo quando tomados muito jovens podem estes animais familiarizar-se para com os homens e serem domados. O tamanho, forma e aparência dos seus cornos, difere muito da dos cornos de nossos bois. Estes são muito procurados, e cobertas as suas pontas de prata, e usados como copos ornamentais ..."
Os Romanos praticavam também uma religião a que chamavam os Mistérios de Mithra, oriunda da pérsia antiga. Mithra representa o Deus da Luz que perseguiu, dominou e matou o Touro divino cuja morte era necessária para a renovação do mundo.
Idade Média
Na idade média existe registo de actividade tauromáquica regular pelo menos desde o século XI na Andaluzia. Existe uma disputa relativamente aos criadores das corridas de Touros que estão na génese das lides actuais. Cristãos ou Mouros ambos praticavam a tauromaquia.
Depois da queda do Império Romano os seus anfi-teatros ficaram ao abandono e em ruínas tendo sido reaproveitados para a realização de Touradas.
Apesar de por natureza ser um espectáculo popular apresenta-se e afirma-se como um ritual marcadamente aristocrático. Por esta altura o Touro já tinha passado de representação de divindade venerada a representação de entidades demoníacas merecedora da violência da lide. Para os pagãos o touro era uma entidade divina, para os cristãos uma entidade demoníaca. Na península Ibérica a invasão moura foi determinante para acabar com a luta pagã e cristã culminando num reforço da Tauromaquia que tanto apreciavam.
Idade Moderna
A Tauromaquia passa a ser fortemente representada na arte, sobretudo na pintura.
A primeira corrida real em Madrid ocorre em 1502. A Plaza Mayor, com capacidade para 50 000 espectadores, foi construída em Madrid em 1617.
Os Cavalos assumem grande protagonismo. O toureiro toureava a Cavalo, muitas vezes até que este fosse morto, após o que continuavam a lide a pé sendo suportados por dezenas de homens ao seu dispôr. Os Cavalos são quase considerados carne para canhão. Naturalmente um Cavalo nunca confrontaria um Touro, fá-lo porque são treinados para temer mais a desobediência ao cavaleiro do que a confrontação do Touro.
Em 1725 começa a afirmar-se em Espanha a personagem do matador a pé. Fruto sobretudo da falta de cavalos provocada pela guerra da Sucessão Espanhola de 1701-1714.
A partir de 1740 "La Fiesta" assume uma faceta artística que alarga a sua aceitação a todas as classes sociais.
A partir da 2ª metade do século XIX as técnicas fotográficas revolucionam a reprodução impressa e os esquemas tradicionais. Do ponto de vista plástico a visão humanista da Tauromaquia é substituida pela visão objectiva. O romantismo dá lugar ao realismo e impressionismo.
Portugal (maior detalhe)
Os Touros bravos, que por cá abundavam, eram usados no treino dos senhores feudais e das suas montadas. A tauromaquia era praticada por realeza e nobreza a cavalo, acompanhada da sua criadagem, que era seguida pelo povo a pé.
1516-1746 Ocorrem mudanças em Espanha, começando por D. Carlos IV, Rei de Espanha de 1516 a 1555, que privou a nobreza espanhola dos jogos com Touros e mais tarde Filipe V, Rei de Espanha entre 1700 e 1746, veta os jogos com Touros em Espanha. Estas restrições no país vizinho impulsionaram esses jogos em Portugal que se desenvolveram e se afirmaram com o aumento da procura, em boa parte proveniente do interesse nas regiões fronteiriças que obtinham em Portugal o prazer das lides que lhes foi dificultado em Espanha.
1683-1706 D. Pedro II era um grande aficcionado e toreava. D. Maria Sofia, sua esposa apaixonada e preocupada com os males que poderiam suceder ao seu marido, conseguiu que o Rei emitisse um decreto que tornava obrigatório o embalamento (corte da ponta dos cornos e seu envolvimento em material resistente que lhe retire capacidade de perfuração mortal) em todas as corridas portuguesas. Isto foi considerado uma fraude no restante mundo taurino onde consideram essencial que o Touro se apresenta na plenitude das suas capacidades.
1777 - Marquês de Pombal proibe as Touradas após uma em que faleceu uma figura nobiliárquica muito estimada pelo actual Rei D. José, voltando a ser permitidas anos mais tarde.
1777-1816 D. Maria I não era adepta da touradas e desagradavam-lhes as brutalidades e barbaridades presentes nas práticas tauromáquicas. Foi no seu reinado que foram eliminadas práticas como o picar do touro por parte dos populares antes das lides e o cortar dos tendões das patas traseiras para debilitar o Touro a que se seguia uma largada de matilhas de cães para o dominarem. Interviu na organização das lides para atenuar a barbárie e civilizar o povo.
1816-1826 Durante o reinado de D. João VI a Tauromaquia foi relegada para segundo plano não lhe sendo dada a importância e relevo que teve no passado.
1826-1828 A neta de D. João VI, D. Maria II, chega mesmo a condenar publicamente a Tauromaquia considerando-a bárbara.
1828-1834 D. Miguel I anula a tendência da sua sobrinha D. Maria II e restaura o estatuto da Tauromaquia incentivando a sua recuperação.
1836 D. Maria II, novamente no poder, tenta novamente a proibição total o que provocou o insurgir de nobres e plebeus contra a sua medida. Curiosamente, ou talvez não, neste mesmo ano é criada a Inspecção Geral de Teatros e Espectáculos que está intimamente ligada à Tauromaquia.
1889-1908 D. Carlos I afirma a presença da Tauromaquia na cultura de Portugal e em 1892 é inaugurada a praça do Campo Pequeno em Portugal.
1930 Só nesta altura os Cavalos passam a ser protegidos por uma malha protectora para impedir a perfuração por parte dos cornos dos Touros. Até aqui era frequente que nas touradas morressem mais Cavalos do que Touros sendo quase considerados como instrumentos dispensáveis para atingir o fim da lide.