Publicada por PortugalZoofilo.Net em 28 de Maio de 2011
Tauromaquia é a palavra utilizada para definir o conceito da chamada ´arte´ de lidar Touros. Deriva da palavra Grega Tauromachia cujo significado é "combate com Touros". Engloba todas as actividades que envolvam touros como corridas de touros, novilhadas, garraiadas, e a própria criação do gado nas ganadarias especializadas. Normalmente é conotada com aquele que é considerado o seu expoente máximo a Tourada.
Existem diversos tipos de Touradas, mudando a forma de lidar com o Touro e o seu destino final. No seu essencial a Tourada defende que a luta entre Touro e toureiro deve ser justa pairando no ar a dúvida sobre quem sairá vencedor.
Cada aficionado olha para a Tourada com um olhar próprio e particular. Aquilo que encanta a uns pode não ser o que suscita encantos a outros. Para alguns um Touro já não é considerado Natureza. É considerado cultura, resultado do apuramento refinado dos ganadeiros ao longo dos tempos. Um Touro nasce para a luta e para a dor num jogo de vida e morte com dimensão mágica. O Homem pode morrer, o Touro deve morrer. Ao arriscar a sua vida o toureiro ganha o direito de matar o Touro nesta cerimónia onde se transcende a morte.
A lide de um Touro dura tipicamente 20 minutos a meia hora sendo lidados vários Touros numa Tourada que dura perto de duas horas. Um Touro que demonstra a bravura excepcional e conquiste o respeito da arena terá a sua vida poupada, através de um indulto, retornando ao campo para viver livre o resto da sua vida e ser utilizado como macho semental / reprodutor para transmitir a sua bravura à descendência. No entanto mesmo quando indultados 80% dos Touros morrem no dia seguinte devido à gravidade das lesões sofridas.
Quando não existe este indulto o fim da Tourada resulta em morte. Seja por uma estocada certeira ao coração, seja por várias estocadas falhadas, seja por recolhimento aos curros onde é assolado por febres devido aos ferimentos, e perda massiva de sangue, podendo ou não chegar vivo ao matadouro onde seguirá para ser transformado em carne de consumo.
Utensílios de Toureio
À esquerda podemos ver o uma iliustração dos utensílios mais comuns utilizados nas touradas.
1. Espadas - aplicadas para a morte do Touro.
2. Bandarilhas - são cravadas no lombo do Touro a cavalo ou a pé.
3. Descabello Touros de 2 Canais - utilizada para estocar a nuca do Touro quando este agoniza por não morrer com o golpe de espada.
4. Espada Fusta.
5. Puntilha - tem a mesma função de 3) mas em forma de punhal.
As bandarilhas devem medir 70 cm de comprimento, ser enfeitadas com papel de seda multi-color e rematadas com um ferro de 8 cm, com um arpão de 4 cm de comprimento e 20 mm (2 cm) de largura;
As farpas ou ou ferros compridos e os ferros curtos devem medir, respectivamente, 140 cm e 80 cm de comprimento, com ferragem idêntica à da bandarilha, mas com dois arpões, e ser enfeitados e arrematados da mesma forma que as bandarilhas.
As bandarilhas a duas mãos pelos cavaleiros devem medir 90 cm de comprimento.
Os ferros compridos devem partir de modo a que 35 cm fiquem na rês e o restante na mão do cavaleiro.
Dados Estatísticos
- 68 Praças de Touros em Portugal
- 91 Ganadarias em Portugal
2009 - dados estatísticos emitidos pelo INE
- 131 Touradas
- 265 275 Espectadores assistiram às Touradas.
- 172 042 Bilhetes Comprados
- 93 233 Bilhetes Oferecidos
- 3 914 917 € de receita (perto de 4 milhões de euros)
- 22,8 € foi o preço médio de bilhete
- 3% do Total de Espectadores e 6% do Total de Receitas é o peso das Touradas relativamente às ocorrências e assistências em todos os espectáculos ao vivo.
2010 - comunicado emitido pela Associação Nacional de Toureiros
- 304 Espectáculos Tauromáquicos dos quais 183 foram Touradas
- 15 Delegados Técnicos Tauromáquicos em actividade
- 57 Cavaleiros em actividade
- 2 Matadores em actividade
- 11 Novilheiros em actividade
- 81 Bandarilheiros em actividade
- 5 Moços de Espada em actividade
- 25 Emboladores em actividade
- 109 Empresas envolvidas na actividade
- 48 Grupos de Forcados em actividade
Opinião Pública
Em Portugal existem actualmente sentimentos muito antagónicos em relação à tourada. Isso é expresso nas sondagens e adesão a grupos e petições lançadas em redes sociais.
Maio de 2007 - Estudo sobre Direitos e Protecção dos Animais financiado pela Associação ANIMAL ao CIES do ISCTE
- 50.5 % dos Portugueses defendem a proibição da tourada
- 39.5 % Opõem-se a essa proibição
- 10.0 % Não têm opinião formada
Março de 2011 - Sondagem encomendada pela Federação Pró-Toiro à Eurosondagem
- 32,7 % dos Portugueses apreciam as actividades com Touros
- 20,6 % São indiferentes à existência ou não destas actividades
- 32,8 % Não apreciam as actividades mas não concordam com a sua abolição
- 11,0 % São contra este tipo de actividades
Ou seja 86,1% dos Portugueses tolera a existência das actividades com Touros. De entre estes:
- 57,9 % Já assistiu a touradas ao vivo
- 76,6 % Já assistiu a touradas na TV
- 61,6 % Não sente necessidade de assistir a mais touradas na TV
- 59,0 % Sentem que a tourada contribui de forma positiva para a imagem de Portugal no exterior
- 3,9 % Sentem que a tourada contribui de forma negativa para a imagem de Portugal no exterior
- 65,3 % Julgam ser grave para a identidade cultural de Portugal o desaparecimento da actividade taurina
Redes Sociais
- Mais de 75 000 fãs de páginas pró-tourada no Facebook
- Mais de 100 000 assinantes da petição "Em Defesa da Festa Brava" (papel e online)
- Mais de 175 000 fãs de páginas anti-tourada no Facebook
- Mais de 36 000 assinantes da petição "Pela Abolição da Touradas e Todos os Espectáculos com Touros"
Estranhamente existem mais pessoas a aderir a movimentos online anti-tourada mas depois isso não se reflecte nas petições onde é clara a vantagem dos movimentos pró-tourada.
Financiamento
A indústria taurina orgulha-se de afirmar que é auto-sustentável não necessitando de apoios do estado. No entanto, como indicado nas estatísticas do INE para 2009, existiram quase 93 233 bilhetes que não foram colocados a venda ao público. Representam 35% dos lugares disponíveis. Como justificar estes números? Talvez o apoio de mais de 1 Milhão de Euros dado pelas autarquias a esta indústria possa justificá-los. Com umas rápidas pesquisas na Internet rapidamente se chegam a dados como os seguintes emitidos pelas próprias câmaras que a isso são obrigadas:
- Alandroal: 40 000 € para realização de actividades com touros.
- Angra do Heroísmo: 275 000 € para financiar as actividades com touros.
- Azambuja: 76 000 € para aquisição de bilhetes para oferecer.
- Azambuja: 600 000 € em 2010 para requalificação da praça de touros.
- Elvas: 65 000 € em 2009 para aquisição de praça de touros desmontável.
- Portel: 75 000 € em 2009 para aquisição de praça de touros amovível.
- Setúbal: financiamento de 120 000 € à empresa Aplaudir ao longo de 6 anos para a reabilitação da praça de touros local.
- Santarém: mais de 168 000 € gastos em 2009 em bilhetes para oferecer.
- Santarém: 20 000 € gastos em 2010 em bilhetes para as corridas de Junho.
- ...
Seria interessante também saber quanto custam à RTP as transmissões de corridas de touros já que mais uma vez falamos de dinheiro dos contribuintes a ser gasto para financiar esta indústria.
Legislação
Portugal tem em vigor leis de protecção aos animais (Lei 92/95) onde entre outras coisas definem o seguinte
"
- São proibidas todas as violências injustificadas contra animais, considerando-se como tais os actos conscientes em, sem necessidade, se infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal.
- Os animais doentes, feridos ou em perigo devem, na medida do possível, ser socorridos.
- São também proibidos os actos consistentes em
a) Exigir a um animal. em casos que não sejam de emergência, esforços ou actuações que, em virtude das suas condição, ele seja obviamente incapaz de realizar ou que estejam obviamente além das suas possibilidades;
b) Utilizar chicotes com nós, aguilhões com mais de 5 mm, ou outros instrumentos perfurantes, na condução de animais, com excepção dos usados na arte equestre e nas touradas autorizadas por lei;
"
Existe um extenso regulamento do espectáculo tauromáquico disponível no site da Inspecção Geral das Actividades Culturais que aborda vários aspectos relacionados com a logística, os intervenientes, os utensilios, os espaços e os critérios de escolha e condicionamento das reses.
Os Touros de morte eram proibidos em Portugal até que em 2002 foi criado o regime de excepção que permitiu a legalização das touradas de morte em locais onde fosse provado que era uma tradição vincada.
Desde 2008 foi decretado pelo Tribunal de Lisboa que as corridas de touros não podem ser passadas na TV antes das 22h30m por considerar que é susceptível de influir negativamente na formação da personalidade de crianças e adolescentes, e passa a ser obrigatório a sinalização contínua de que as imagens podem ferir susceptibilidades.
Proibir das Touradas
Apesar de não existir uma tendência clara na opinião pública vários municipios declararam já a proibição da execução de touradas nos seus concelhos. Juntaram-se assim às mais de 70 Cidades espanholas que caminharam no mesmo sentido rompendo com a tradição cultural vingente. As pioneiras em Portugal até ao momento são:
- Braga
- Cascais
- Sintra
- Viana do Castelo